Médico Maranhense mostra a ingerência , desrespeito e o caos já vivido na saúde pública do Maranhão

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Montagem: Busca Google e foto Dr. Joel Júnior

“…caro secretário, é exatamente o oposto. Fomos os primeiros a decretar lockdown porque talvez sejamos os últimos em boas práticas de gestão, em investimento e em estratégia.”

Por Joel Júnior

Hoje fui surpreendido ao ler, na solidão do meu confinamento, longe da minha família, o artigo do advogado e secretário de saúde do Maranhão, o Dr. Carlos Lula, a cerca do lockdown que a “justiça” decretou na Ilha. Achar que o fato de o Maranhão ser o primeiro a decretar o lockdown é “vanguardismo rotineiro dos maranhenses” é uma afronta à inteligência de qualquer pessoa, um desrespeito sem tamanho, para não dizer má-fé sofista. Já havia dito em algumas oportunidades que este não seria o momento para chamar à razão os verdadeiros responsáveis, que isso se faria ao final dessa tragédia, mas tudo tem limite, inclusive minha paciência.

O raciocínio, caro secretário, é exatamente o oposto. Fomos os primeiros a decretar lockdown porque talvez sejamos os últimos em boas práticas de gestão, em investimento e em estratégia.

Ao longo dos anos, vimos os leitos do SUS reduzidos, unidades saúde foram fechadas na capital e nos interiores, os profissionais de saúde desrespeitados, sem terem uma “cena segura” para trabalharem. Sem um contrato digno, sem plano de carreira. Sem, sequer, o direito a férias ou ao adoecimento.

Uma busca rápida na internet nos mostra inúmeras reportagens e estudos que mostram a deficiência dos leitos de uti no Maranhão (como podemos ver na imagem da matéria de MAIO DE 2016) até mesmo para situações normais, imagina para uma situação atípica e avassaladora como a que estamos vivendo.

Para exemplificar isso, uma situação se faz sintomática. A residência médica em Medicina intensiva do Hospital Universitário já abriu e já fechou vagas por falta de candidatos, isso demonstra a falta de interesse dos colegas para com uma área tão negligenciada pelo poder público ao longo dos anos.

Entrando na seara municipal, a atenção básica em São Luís tem menos de 50% de cobertura, é isso agora cobra um preço cruel, afinal as síndromes gripais leves poderiam e deveriam ser atendidas nessas unidades, bem estruturadas e com equipes completas. Orientações e/ou medicações valiosíssimas neste momento deveriam estar disponíveis para distribuição gratuita e desburocratizada para a população. O que, por óbvio, contribuiria para que muitos pacientes não evoluíssem para casos graves e desembocassem no gargalo intensivo da morte.

Hoje os principais atores da gestão pública enaltecem as equipes de profissionais de saúde, porém ao passar a crise, voltarão a nos tratar com o mesmo desprezo e desrespeito que vêm fazendo ao longo dos anos, pois, como diria Augusto dos Anjos, “a mão que afaga é a mesma que apedreja”!
Por fim, Solidarizo-me com todas as famílias que perderam seus entes queridos e sequer puderam chorar seu velamento. Solidarizo-me, ainda, com os profissionais de saúde, que, apesar de não serem heróis, de terem seus medos e angústias, encaram essa situação com uma verdadeira lição de profissionalismo e altruísmo.

Com muita fé, tudo isso irá passar, mas não esqueceremos que mais à frente os atores principais deverão ser chamados à razão. E que um verdadeiro ciclo de vanguardismo possa se estabelecer no Maranhão.

 

 

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